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A Prática da Essência

Texto de 31/08/2006

Procuro escrever este texto baseado em fatos, na tentativa de diminuir ao máximo as influências das distorções que meu pobre ego pode criar.

Dedico o mesmo aos mestres me influenciam, e que eu possa ser digno de seus valiosos ensinamentos, principalmente do Prof. Hermógenes, Sua Santidade o Dalai Lama e dos principais alunos de grande yogue Krishnamacharya.

Para minha surpresa, o texto foi vítima de censura em uma determinada Associação de Yoga, e apresentaram dois motivos para tal: primeiro o uso da expressão “mestre de pose”, depois, por ressaltar que o yoga de verdade, não necessita tantas sub-categorias ou classificações. Tire você mesmo a sua impressão…

O segundo aforismo do Yoga Sutra de Patanjali é: yogah cittavrtti nirodhah.

Segundo a explicação dada por Iyengar, que possui um dos melhores comentários deste Sutra, isto significa, yoga é a cessação dos movimentos na consciência.

Sábado, 29 de abril de 2006, no Ginásio do Ibirapuera em São Paulo, 7.500 pessoas aplaudem de pé a entrada do Dalai Lama, em sua terceira visita ao Brasil, e no começo de sua palestra diz: Tenho mais de 70 anos, já passei por muitos sofrimentos e dificuldades, em todo este tempo, o melhor e mais seguro local onde encontro refúgio é em uma mente tranqüila.

O professor Hermógenes, em seu livro, Yoga para Nervosos, diz na página 121: “Yogaterapia consiste em restaurar a paz interna…Yoga atua no sentido de dar-lhe a concentração necessária, conseqüentemente gerando poder, segurança, penetração, equanimidade, coerência, harmonia e bem-estar. Como psicosíntese, yoga reduz a fluidez e a dispersão.”

Ao relacionar os parágrafos anteriores, percebo que estes grandes mestres citados não nos direcionam para uma prática de desenvolvimento físico, mas para uma prática que vai além do que seria defendido por um simples ‘mestre de pose”, ou seja, aquele que se preocupa apenas com ásanas (posturas físicas).

No seu principal livro, Coração do Yoga (Heart of Yoga), Desikachar, filho de Krishnamacharya, ressalta que seu pai nunca viu o yoga como apenas uma prática física, mas sim como passos para se alcançar o que é mais elevado. Esta busca do elevado, respeitando sempre a tradição religiosa do praticante. Em entrevista com o mesmo Desikachar, ele conta que seu pai ao cumprimentar um muçulmano, o fazia da forma muçulmana, e lamenta muito que professores agreguem crenças religiosas com a prática do yoga, como é feito comumente com o hinduísmo e alguns professores na Índia.

Em relação ao método seguido pelo famoso yogue, a prática de ásanas parece ter sido mais fielmente respeitada fielmente por Pattabhi Jois (precursor do Ashtanga Yoga), e Ramaswami (o aluno fora da família que estudou mais tempo), este último, mantém o foco no Vinyasa (movimento entre os ásanas), mas bastante preocupado com a gradualidade na execução. Já o filho, Desikachar, o companheiro de mais tempo, e mais próximo do grande yogue, estudou com profunda dedicação e devoção na fase mais madura de Krishnamacharya, até a sua morte em 1989, onde o papel da meditação, da cura e da devoção é incrementado. Já Iyengar, estudou com krishnamacharya por 2 anos, muito jovem, desenvolveu a maior parte de sua imensa sabedoria através de sua própria prática, mas sempre reverenciou seu mestre com fonte inspiradora e grande yogue. Conta-se que no aniversário de 60 anos de Iyengar, Krishnamacharya salienta para seu aluno a importância de se focar menos em ásanas e mais na meditação.

Bem, de tudo isto, pelo que podemos ver, a prática de essência nos leva a meditação. Este caminho para a meditação também pode ser observado no Yoga Sutra, no capítulo II, aforismo 29: yama niyama asana pranayama pratyahara dharana dhyana samadhaya astau angani, que quer dizer, regras morais (yama), constante observância (niyama), posturas (asana), regulação da respiração (pranayama), internalização dos sentidos na direção da fonte (pratyahara), concentração (dharana), meditação (dhyana) e absorção da consciência no Ser (samadhi); são os oito constituintes do yoga. Esta tradução está de acordo com Iyengar, que ainda salienta: “Os cinco primeiros aspectos do yoga são esforços individuais para evolução da consciência, enquanto dharana, dhyana e samadhi são a manifestação universal ou os naturais estados de yoga. (Light on Yoga, p.142).


Falando de meditação o Prof. Hermógenes, no seu livro Yoga para Nervosos, p.174 apresenta: “A pureza mental deve ser defendida…Mantenha vigilância e resguarde a sua mente. Procure perceber-se de quando e como ocorrem tais nocivas sintonias involuntárias. Procure também sustar as associações de idéias ou de imagens inadequadas à saúde, à paz e a Deus.”

Portanto, temos orientações importantes e claras de qual deve ser a essência da prática, e como devemos focar nossas atividades na busca de uma rotina de meditação.

Outro detalhe importante a destacar é o efeito de cura e saúde nas sugestões destes mestres citados, o Dalai Lama faz isso quando conversa com renomados cientistas sobre os efeitos maléficos das emoções perturbadoras, ou quando Desikachar é surpreendido ao ver uma mulher ocidental entrar em sua casa e reverenciar seu pai, pela cura realizada, ou ainda, quando o Prof. Hermógenes, que através de sua cura de pneumonia, curou a tantos com as práticas detalhadas em seus livros.

Mediante estas orientações, podemos observar alguns pontos importantes sobre a formação de professores de yoga, e o distanciamento desta formação da essência da prática.

Uma vez em conversa com o professor Hermógenes, observarmos a profusão de cursos de formação de professores de yoga, e ele alertou-me sobre o cuidado que devemos ter sobre este processo de “comercialização do yoga”, com cursos caros, fracos e muitas vezes longe de qualquer orientação baseada nos textos clássicos. Observam-se duas tendências nesta comercialização, a especialização em aspectos físico-corporais, ou em interpretações pessoais de textos clássicos. Acredito que seja desnecessário falar de uma terceira categoria, daqueles que se dão os títulos a si próprios de mestres ou professores, que seria então uma outra categoria de auto-formação.

A especialização nos aspectos físico-corporais deveria evitar a falha de tratar o yoga como se fosse uma disciplina da medicina, da fisioterapia, ou da educação física, ou pior, apenas a base para o desenvolvimento da prática de Pilates, isto é uma miniaturização de seu universo e do seu entendimento. Yoga é muito mais que apenas o aspecto físico-corporal.

Quanto à tendência de interpretações pessoais de textos clássicos, isto ainda é mais complexo, pois podemos encontrar facilmente nas livrarias viagens egóico-interpretativas. A maioria desconhece que a Índia criou a primeira universidade residencial que se tem conhecimento, por volta de 600 a.C., se chamava Nalanda, e tinha, no seu auge, 2.000 funcionários e professores, e 10.000 alunos. Lá, se estudava todas as tradições filosóficas indianas, e foi local de ensinamentos de Sidarta Gautama, o Buda, que revolucionou o estudo filosófico da Índia, e a partir daí, a própria universidade acabou por ter em sua maioria filósofos da linha budista, pois estes eram os vencedores dos debates que ocorriam então, para verificar qual a linha filosófica mais estruturada.

O texto de Patanjali, o Yoga Sutra, já apresenta um caráter reformista da estrutura filosófica Jainista, Védica e Samkhya, seu texto parece ser da mesma época em que os ensinamentos do Buda já se espalhavam, embora os ensinamentos do Buda pedissem para ser testados minuciosamente por seus praticantes.

Esta necessidade de testes gerou uma tradição de debates filosóficos, e é verificável a melhor estruturação de pensamentos oriunda dos infinitos debates quando observamos os textos de Nagarjuna, Chandrakirti, Shantideva e Atisha, este último, um dos grandes responsáveis pela estruturação do budismo tibetano, no século XI.

A universidade de Nalanda foi destruída em 1193, durante as invasões muçulmanas, e sua estrutura de ensino que influencia a toda a cultura oriental até hoje, foi perpetuada de maneira mais pura no Tibet (até a invasão chinesa em 1959, hoje retornando à Índia).

Ressalto a tradição de debates filosóficos de Nalanda, pois esta produziu textos maravilhosos sobre as perturbações da mente, e a busca do caminho espiritual, resultado de uma estrutura de estudo filosófico até hoje única, e muitos falsos mestres ocidentais sobrepõem seu pseudo-conhecimento sobre os textos clássicos a gerações de mestres que debateram por toda uma vida estes temas.

A análise dos textos clássicos deveria respeitar estas tradições de estudo, um exemplo prático disto é Desikachar, que estudou por muitos anos, e 8 vezes, o Yoga Sutra com seu pai, que era considerado um grande erudito nas diversas tradições filosófico indianas.

Estas análises requerem anos de estudo aprofundado e dedicação, e isto não é visto na formação de professores. Uma pequena amostra de como deveria ser um estudo e análise de textos clássicos está no livro O Essencial da Vida, do Prof. Hermógenes, onde as tradições religiosas são vistas sob o ponto de vista principalmente da Bíblia e do Bagavad Gita, e a importância de trabalharmos os venenos do ego.

Para caminharmos para uma conclusão, vê-se a bondade de mestres que compreendem a nossa dificuldade de compreensão e confusão que geramos entre tantos ensinamentos, e nos ensinam atalhos para que tenhamos uma existência mais significativa.

Sentimos isto quando o Prof. Hermógenes ressalta que devemos “Servir, Orar e Vigiar”, o Dalai-Lama explica que “o mais importante é o desenvolvimento de um coração caloroso”, e Krishnamacharya não ensinou Desikachar a parar os próprios batimentos cardíacos como ele fazia, pois “só devemos ensinar o que é útil para os outros.”

De tantos dados e citações, parece que o melhor caminho seria buscar um corpo mais saudável pelo yoga, para uma profunda e sincera prática de meditação, reduzindo nossas perturbações mentais, e nos tornando seres mais amorosos, menos violentos e mais úteis a todos.

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1 comentário em “A Prática da Essência”

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