Texto 08/10/2007
Este é um tema em que recebi muita procura para falar a respeito, recentemente.
Achamos que a 26a. Semana Gandhi, agora somada à oficialização, pela ONU, do Dia 02 de Outubro como o Dia Internacional da Não-Violência, fosse um momento adequado para tratar disto.
Sugiro três obras que nos ajudam a falar um pouquinho das relações, e deste tema.
Não são obras específicas do tema Não-Violência, mas trazem um conteúdo significativo e valoroso para que possamos nos aprofundar no assunto, são elas:
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A arte de Lidar com a Raiva – Dalai Lama
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Saber Cuidar (Ética do Humano – Compaixão pela Terra) – Leonardo Boff
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Aprendendo a Lidar com a Raiva – Thich Nhat Hanh
Inicialmente, vale uma reflexão sobre a diferença sobre a noção de paz, e não-violência. Muitos acham o termo não-violência de conotação negativa, e o preferem substituir pelo terma paz. São coisas diferentes. A origem do termo não-violência, vem de ahimsa (sânscrito) e significa um profundo compromisso de não compactuar com a violência. Gandhi é o grande exemplo desta busca, uma vida toda na tentativa de cumprir da melhor forma este compromisso, que ele mesmo apresentava como compromisso com a Verdade, com V maiúsculo.
Podemos destacar diferentes metodologias para lidarmos melhor com nossas reações de medo e raiva, para termos uma atitude não-violenta.
Uma delas, seria analisarmos a composição das emoções que conduzem o comportamento do agressor. O Dalai Lama, neste caso, nos cita o texto de Shantideva, onde este nos mostra que não desenvolvemos raiva pelo bastão que nos agride, pois o bastão é apenas o instrumento da agressão. Assim, quando somos agredidos por alguém, podemos ver que esta pessoa age desta forma por ser instrumento de emoções perturbadora. Esta visão requer prática para ser assimilada, mas é muito lógica.
Leonardo Boff mostra um caminho de não-violência nos falando de Jesus como exemplo de cuidado, e a importância de que temos que desenvolver esta atitude de cuidar. Cuidado este demonstrado por Jesus, pelos pobres, famintos, discriminados e doentes.
Já, Thich Nhat Hanh, mestre zen budista vietnamita, que escreve de forma tão bela sobre o tema, nos ensina a cozinhar nossas emoções de raiva e medo, como batata quente, até amolecê-las, e para isto, usar o fogo e a panela da plena atenção, meditar de forma atenta e cuidadosa, sentado ou caminhando, mas observando e minando a intensidade de nossas sementes de violência.
Uma bela forma de perceber a importância de não se compactuar com a violência é o poema de Bertold Brech (1898-1956), chamado É PRECISO AGIR:
Primeiro levaram os negros
Mas não me importei com isso
Eu não era negro
Em seguida levaram alguns operários
Mas não me importei com isso
Eu também não era operário
Depois prenderam os miseráveis
Mas não me importei com isso
Porque eu não sou miserável
Depois agarraram uns desempregados
Mas como tenho meu emprego
Também não me importei
Agora estão me levando
Mas já é tarde.
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo.