Neste texto você vai saber porque aqueles que fazem o uso de substâncias são pessoas que ferem princípios importantes do Yoga.
O que significa substância será nosso primeiro passo de aprofundamento. Para este universo do autoconhecimento, da descoberta interior, qualquer elemento que nos tire o controle, domínio, maturidade, clareza, consciência do nosso processo mental de auto-observação e autoconsciência, pode ser considerado substância que altera o estado de consciência.
Esta não é uma preocupação moderna, uma vez que o próprio Buda, 500 anos antes de Cristo, e antes do Yoga Sutra de Patanjali, havia colocado como regra inicial, um dos cinco votos primários, a eliminação do consumo de qualquer substância que afetasse a clareza mental.
Mas vamos ao Yoga, temos no principal texto da tradição, o Yoga Sutra de Patanjali, no seu capítulo 4, logo no primeiro verso, a apresentação de 5 formas de trabalhar a consciência.
4.1 Janmauṣadhimantratapaḥsamādhijāḥ siddhayaḥ
Que quer dizer, o siddhis ou ganhos da prática do yoga (siddhayaḥ) vêm (jāḥ) com o nascimento (janma), (ou se conseguem por meio de) ervas (auṣadhi), mantra-s (mantra), austeridades (tapas) (ou) perfeita concentração (samādhi)
Sim, Patanjali se depara com um cenário onde existem pessoas que naturalmente atingem grande clareza de consciência, por nascença, ou tentam através do uso de substâncias, ou fazem através da prece repetitiva, ou através da profunda dedicação e esforço, ou através do desenvolvimento de uma mente clara, equilibrada, ou seja concentrada e focada.
Mas Patanjali alerta já em seguida no seu texto, que não são todos estes caminhos que apresentam resultados verdadeiros, purificadores, transformadores e sustentáveis. No aforismo 6 do mesmo capítulo ele apresenta.
4.6 tatra dhyanajam anashayam
Que quer dizer que a libertação só se dá pelo caminho construído pela meditação, neste e nos sutras que antecedem, Patanjali desconsidera os caminhos que não se baseiam na prática meditativa. Afirmando que os outros caminhos não fazem a purificação das marcas subliminares da consciência, deixando os vestígios que vão surgir em momentos diversos na vida daquele que não segue estes parâmetros fundamentais.
Devemos considerar que Patanjali coloca no caminho apresentado no capítulo 2 da obra, a necessidade de tapas (austeridade e disciplina) para o desenvolvimento do caminho até dhyana (meditação), e este desabrochar, ou melhor, consistência em meditação que leva ao objetivo da perfeita concentração, samadhi.
Portanto, este texto é um alerta fundamentado ao uso de substâncias que alteram o estado de consciência. Em ampla discussão com meu professor e mestre zen Thich Nhat Hanh (não muitos sabem que sou ordenado na tradição zen budista) o uso do álcool é claramente rejeitado. Thich Nhat Hanh destacava muitas vezes com a forte evidência de que a violência familiar e contra as mulheres tem sua principal causa no álcool, mas até as mais feministas ativistas pouco falam sobre isto.
Mesmo meus mais próximos professores, Hermógenes e Lino Miele, reprovam o consumo de álcool diretamente, alertando em diversos momentos sobre o malefício de seu consumo.
Lino faz especial lembrete, inclusive da restrição ao café, aprendida com Pattabhi Jois, que orientava desta forma seus alunos mais próximos. Sim, o café também é uma substância que altera a clareza mental.
O uso por professores de Yoga, ou praticantes de substâncias, ervas, fumo, e outros similares, é prova do desconhecimento do caminho oferecido pelo Yoga para o desenvolvimento de uma mente mais clara e equilibrada.
Se você quiser saber mais sobre a mente, e o Yoga, o curso online “Essência da Psicologia do Yoga” é uma ótima forma de aprofundar este estudos e entendimentos.
E em relação a bebida SOMA apresentada nos Vedas?
Algumas interpretações apontam para o fato de SOMA ser comparado ao mesmo nível de importância de um Deus e quando lemos as escrituras surgem muitas dúvidas do que, de fato, seria SOMA.
Existem substâncias que são ferramentas de autoconhecimento e que são utilizados de forma séria e ritualística por culturas indígenas e até no hinduísmo com a própria bebida SOMA.
Qualquer substância, bebida, fumo, que altere o estado de consciência são desaprovados por Patanjali e Buda, explicitamente em sues textos, não dando brechas para o julgamento se são utilizadas de forma séria ou não. O desenvolvimento da consciência só pode ser feito através do trabalho, esforço, prática e dedicação do aluno, argumento reforçado em vários momentos pelos mesmos.