Outro dia recebi uma questionamento de alguém que gostaria de se profissionalizar em Mindfulness? Não entendi a questão, e pedi para que me explicasse melhor.
Disse que está fazendo um curso de 8 semanas, que irá habilitar ela a fazer um curso de introdução ao ensino, e que na sequência teria uma especialização que poderia permitir que utilizasse a técnica para ajudar seus pacientes.
Não respondi desta forma, mas pensei: COMÉRCIO, COMÉRCIO BARATO, mas não tão barato!
Vamos por partes, a maioria das pessoas envolvidas com este curso tem pouca noção sobre a origem do conceito e da palavra Mindfulness.
Ela se refere ao Sétimo de Oito Passos ensinado no primeiro discurso do Buda. Estes oito passos pertencem à Quarta, das quatro Nobres Verdades. Complicado?
Pois é. É preciso um pouco de estudo para entender corretamente isto? Sim, é preciso.
Mas mais do que estudo, é preciso prática. É preciso experiência de prática. É preciso o conhecimento da tradição, e da transmissão desta tradição.
8 semanas não bastam? Por que 8 semanas?
Algumas pesquisas apontaram que 8 semanas deixam rastros significativos nos caminhos neurais, somente isto, mas não significa que você aprendeu algo.
Se eu ficar 8 semanas com o Zico, tenho certeza que terei rastros de como bater na bola, mas não significa que serei um rascunho de jogador de futebol.
Segundo o Jornal Europeu de Psicologia Social, em um dos mais respeitados estudos sobre estrutura dos hábitos, são necessários 66 dias para que um novo hábito se estabilize.
Ou seja, 8 semanas não é suficiente nem para se estabelecer um novo hábito.
Thich Nhat Hanh, meu professor, é o grande estudioso que elaborou, ensinou e aprofundou o estudo das práticas de meditação nas principais universidades e faculdades de psicologia do mundo todo, influenciando de forma definitiva as técnicas da Psicologia Integral, Transpessoal, Positiva e Cognitiva Comportamental. Vários são os cientistas e terapeutas famosos que participaram de seus retiros para aprender com ele, entre eles, Jon Kabat-Zinn, médico que aprofundou estudos sobre os efeitos da meditação, chegando aos traços de modificação de 8 semanas.
A maioria destes alunos fizeram importantes aplicações de seus aprendizados, mas nenhum deles é professor da tradição budista, e capacitado a ensinar dentro da estrutura e contexto da tradição. É como comer só o orégano da pizza, tirar mindfulness do seu contexto budista.
Entre os cientistas, os trabalhos de Paul Ekman, e Richard Davidson, tem mais expressão, mais aprofundamento, e muito mais anos de pesquisa, e nenhum destes dois cientistas se propõe a ensinar fora do contexto original da prática.
Justamente para eliminar esta confusão, o Ciência Meditativa resolveu desenvolver cursos na área de Mindfulness, não só de ensino dos aspectos originais, com professores autorizados e pertencentes à tradição, mas também e principalmente da promoção de práticas gratuitas e acolhedoras, pois o caminho do Buda tem em sua essência a partilha com a Sangha, a comunidade, o grupo, e isto fazemos de forma aberta, gratuita, e não comercial.
Em resumo, Mindfulness está relacionada a mudança de um estilo de vida, uma filosofia, envolve a forma como conversamos, como comemos, se somos vegetarianos, sobre consumo consciente, se buscamos uma mente clara, se temos compromissos de não-violência e outras coisas mais. Antes de ensinar, viver um pouco disto, seria o aspecto essencial para que as técnicas tenham sua verdadeira efetividade colocada em prática.