Procurado pela jornalista Adriana Penna da GNT, respondi a esta entrevista:
1. Você é professor? Qual sua experiência com a meditação?
Sim, Adriana, hoje sou um economista diferente, professor de Yoga e Meditação.
A história e a experiência podem ser contadas por diferentes pontos de partida, mas talvez um dos mais significativos foi o fato de me deparar com um câncer, no auge de uma carreira bem sucedida de 15 anos na área financeira de multinacionais. Como jovem formado em Economia pela USP, tinha proposta de várias empresas, principalmente em projetos de reestruturação, que era minha especialidade. Quando me mudei para Curitiba, para cuidar de um projeto de uma empresa dinamarquesa, descobri que estava com câncer.
O médico que me deu a notícia do câncer, o fez de uma forma muito especial, perguntando sobre minha espiritualidade e minha fé. Isso reforçou aquilo que eu já vinha refletindo e pesquisando, sobre o quanto a sociedade nos impõe hábitos destrutivos, o quanto o meu sucesso profissional e social não significavam felicidade e que gostaria de transformar meu caminhar em uma maneira de auxiliar os outros.
Desde o início do tratamento comecei um grande trabalho de pesquisas sobre o que poderia fazer para acelerar e promover saúde e recuperação ao meu corpo em tratamento. O que encontrava em pesquisas sérias e bem fundamentadas, aplicava em meu tratamento, desde acupuntura, mudanças alimentares, até apoio psicológico, mas a unanimidade nas pesquisas se chamava: MEDITAÇÃO.
Iniciei uma profunda fase de pesquisas, retiros, práticas, participação em cursos, leituras, e vivências espirituais. O resultado de tudo isto foi uma cura extraordinária, na metade do tempo em que a medicina tinha conhecimento na época. Porém o mergulho já havia sido dado, e continuei a me aprofundar.
Uma das pessoas fundamentais neste mergulho foi Sua Santidade o Dalai Lama, com quem tive oportunidade de estudar, e receber transmissão de preciosos ensinamentos, entre eles o mais importante, O Grande Caminho da Iluminação de Tsongkhapa, o principal tratado da tradição Gelupa do Budismo Tibetano, em 2005. Em dia muito especial, o Dalai Lama nos falou sobre a importância de dedicarmos nossas vidas no auxílio dos seres, e se prostrou em voto de dedicar sua vida a isto, pedindo para que se quiséssemos, poderíamos fazer o mesmo, junto com ele. Em lágrimas, acompanhei meu precioso professor na promessa.
Ao voltar ao Brasil, refleti como poderia trabalhar e levar a espiritualidade, a saúde e as práticas de meditação aos brasileiros, de tradição cristã, e me lembrei que já havia uma pessoa que estava fazendo isto há muitos anos no Brasil. Prof. Hermógenes, desde 1960 fazia um trabalho maravilhoso, em trazer aos brasileiros, em linguagem cristã, os preciosos ensinamentos das tradições orientais e filosofia perene.
Já nos conhecíamos, pois já estava iniciando a organização dos Congressos Brasileiros de Meditação, mas a partir daí nos aproximamos mais e mais, e passei a ser seu biógrafo, propagador de sua obra, e hoje, junto com seu neto, organizador da continuidade de seu trabalho, e criação de uma Associação Internacional de Terapeutas, que irão trabalhar com base em sua obra, resultado dos seus, até agora, 89 anos bem vividos.
Nesta jornada, acabei também por me aproximar do mestre Zen, Thich Nhat Hanh, vietnamita, indicado a Nobel da Paz por Martin Luther King, e como referência espiritual por Thomas Merton e o Dalai Lama. Esta aproximação se deu através de retiros e aprendizados com seus ensinamentos, do uso da meditação como profunda ferramenta de utilização terapêutica e acabei sendo ordenado pelo mesmo em 2009, sob o nome “Verdadeiro Caminho da Compreensão” (Chan Trí Dao).
Hoje em Curitiba, trabalho com o uso da meditação em processos de educação para a Paz, ajudo a dirigir dois centros de yoga/meditação e escrevo livros, hoje 6 publicados, um deles, com prefácio da neta de Mahatma Gandhi, Ela Gandhi.
2. A maioria das pessoas acha que não vai conseguir meditar, que isso é para pessoas calmas. Porque a dificuldade em sentar e aquietar a mente?
Toda a nossa sociedade, cultura e educação estão direcionados para realizações e objetivos externos ao indivíduo. Resulta disto uma estrutura social que privilegia o consumo, e nos desenvolve hábitos pessoais como consequência disto. Desde a nossa alimentação, passando pelo nossos relacionamentos, até em nossas escolhas profissionais, valorizamos satisfações como objetos de consumo.
Como este mecanismo, por sua própria natureza, é insatisfatório, rapidamente acreditamos precisar de novas coisas para nos satisfazer, e como o processo segue, tentamos nos satisfazer mais rápido, e mais rápido.
Dentro deste processo nos disciplinamos a fazer, mais e mais rápido. Chegamos ao ponto de acharmos que não podemos fazer de outro jeito. Conheço alunos que são incapazes de parar, nem quando acompanhados da pessoa amada, de fazer listas de atividades de coisas a fazer, e também, alunas, que querem ser rápidas e eficientes, inclusive nos momentos mais íntimos das suas relações.
Aquietar a mente envolve um treinamento no sentido de resgate deste afogamento, por isto que pode parecer um movimento contrário ao que a sociedade tem nos imposto, mas é justamente contrário por nos estar resgatando da loucura acelerada, e nos apresentando nossa natureza tranquila, gentil e suave.
Se quiser saber mais, sugiro este artigo que escrevi:
http://cienciameditativa.blogspot.com/search/label/Introdução%20à%20Meditação
3.Quais os benefícios físicos da meditação? E os mentais?
São vários os efeitos da meditação, e muitos estão sendo descobertos somente agora, entre eles:
-redução de problemas físicos relacionados ao stress,como hipertensão arterial, enxaqueca, insônia e dores crônicas.
-redução dos batimentos cardíacos e do ritmo respiratório e consumo de oxigênio.
-diminuição da freqüência das ondas cerebrais.
-diminuição do suor, da tensão muscular.
-diminuição da síndrome pré-menstrual, infertilidade, ansiedade, irritabilidade e depressão.
-controle de vícios e dependência de drogas.
-fortalecimento da imunidade, com maior porcentagem de células T.
-aumento da serotonina, o chamado “hormônio do bem estar”.
-diminuição dos níveis de colesterol.
Dois dos maiores pesquisadores sobre o efeito da meditação responderam a entrevistas interessantes que publiquei em nosso blog:
http://cienciameditativa.blogspot.com/2008/10/entrevista-com-herbert-benson-para.html http://cienciameditativa.blogspot.com/search/label/Entrevista%20com%20Cientista%20sobre%20Meditação%20na%20Revista%20Época
4. Como começar neste processo? Dá pra meditar por 5 minutos apenas?
Sim, é possível fazer meditação em 5 minutos, embora o ideal sejam práticas um pouco mais longas para efeitos mais significativos. Sugiro começar a prática com a leitura de um bom livro a respeito, mas um bom livro mesmo, e não estes manuais práticos que não possibilitam uma motivação verdadeira para um processo de busca e transformação pessoal.
Minhas sugestões: A Arte da Felicidade (Dalai Lama, Howard Cuttler), Transformação e Cura (Thich Nhat Hanh), Paz a Cada Passo (Thich Nhat Hanh), Autoperfeição com Hatha Yoga (Hermógenes) e Yoga para Nervosos (Hermógenes).
5. Precisa ter alguma religião para meditar?
Esta é uma pergunta muito frequente, e a resposta é sim e não, pois você pode meditar sem ter uma religião, mas você também vai encontrar práticas contemplativas em todas as religiões, umbanda, judaísmo, islamismo, catolicismo, budismo e outras. Sugiro que veja o videozinho que fizemos sobre este assunto, e também um texto em poesia:
Texto: http://cienciameditativa.blogspot.com/2008/02/o-sagrado-alm-das-questes.html
Vídeo: http://www.youtube.com/watch?v=lJHXYqPoK2Q
6. Como seria uma boa estratégia para começar a meditação, para quem tem muitas dificuldades de se sentar por alguns minutos sem fazer nada?
Tanto o Prof. Hermógenes, quanto o mestre zen Thich Nhat Hanh dão ênfase na possibilidade de caminharmos meditando, contemplando e saboreando o esplendor que temos à nossa volta. Já os vi se encantarem com olhos de uma criança, ou a textura de uma planta, detalhes maravilhosos que a vida disponibiliza a todo instante àqueles que tem uma mente tranquila e atenta.