Desde o final de 2017, até este início de 2018, a comunidade de praticantes do Ashtanga Yoga tem vivido momentos de notícias agitadas. Mas será preciso retroceder um pouco, para entender melhor as supostas confusões que circulam nas redes sociais, e perceber que a desilusão é consequência da ilusão aceita.
Em 2010, Lino Miele pede para ser destituído da lista de professores autorizados pelo K. Pattabhi Jois Yoga Shala, especialmente pela forma como o novo diretor, Sharat Rangaswamy, neto de Pattabhi Jois, associou-se a grandiosa empreitada de um estúdio de Yoga nos Estados Unidos, na mesma cidade (mesmo quarteirão) onde Tim Miller, velho aluno de P. Jois, e antigo professor já tinha a muitos anos seu estúdio. É certo que a relação de Sharat e Lino já não vinha sendo das melhores, pois a proximidade do aluno incomodava o comando do neto, especialmente quando Lino publica o Manual de Ashtanga Yoga, a pedido de P. Jois, com todas as quatro séries, publicação esta que não era da vontade de Sharat.
Ao assumir o comando, após a morte do avô, Sharat tenta estabelecer novos conjuntos de regras, e em especial, algumas alterações aqui e acolá na forma da prática, de forma a deixar uma marca pessoal na maneira de se praticar.
Isto fica nítido ao se observar as pequenas diferenças do que está escrito no livro que seu avô e Lino publicaram juntos, e a forma como novos professores tem ensinado atualmente.
Obviamente que isto foi rejeitado por muitos alunos do avô, e a lista de professores autorizados passou a ser uma ferramenta de controle e poder da instituição. Estas regras vieram se ajustando com o tempo, novos cursos e formas de ensino, além do afrouxamento de algumas regulamentações iniciais, como novas obrigações a professores certificados a muito tempo por P. Jois.
Curiosamente, esta mesma ferramenta de poder se volta contra Sharat Jois, que é destituído pela mãe da posição de professor principal, conforme vocês podem ver aqui no site da instituição.
Esta briga de poder institucional tem causado uma certo clima desagradável entre os alunos do antigo oficial representante, Sharat Jois, e os alunos dos mais antigos professores, ligados ao tronco principal da tradição por terem sido autorizados por Pattabhi Jois.
Esta tentativa de poder institucional tem deixado outros membros da família também desapontados, como o próprio filho de P. Jois, que também teve o nome excluído da lista de professores.
Abaixo, o desabafo dele na internet, acusando a instituição da família de fazer Lavagem Cerebral.
,
Ao que parece, apesar de perder a posição no Shala, Sharat Rangaswamy, que se entitulou Sharat Jois, após a morte do avô, ainda controla e determina as instruções na administração virtual da instituição, pois esta semana, vários professores antigos ligados a seu avô, foram retirados da lista, tais como Tim Miller, Richard Freeman e até o próprio tio, Manju Jois. (Você pode checar esta informação aqui) Você pode perceber a confusão criada, pois o site da instituição não aparece o nome do neto, mas no site de Sharat, www.sharatjois.com, aparece a imagem como ele sendo o responsável da instituição.
Outro professor de grande circulação nas redes sociais, Mark Robberds, também foi destituído da lista de professores, e explica em detalhes como é confuso o processo de decisão de Sharat, baseado em informações que lhe chegam, e deixa claro que não concorda com a forma de ensino ( e alterações) feita por seu ex-professor, como a prática de fortes retroflexões, conhecidas como catching. Ao final deste texto, deixo a tradução do depoimento de Mark Robberds em sua página pessoal, aqui abaixo, apenas a imagem do mesmo depoimento.
Tive a oportunidade de conversar pessoalmente com Lino Miele sobre todas estas confusões, e ele destacou algo importante. Não se preocupa, pois tem uma posição única, quando viu que coisas erradas estavam sendo feitas, tomou a iniciativa de sair da lista, não esperou as incongruências aparecerem. Tomou a iniciativa pela retidão.
Agora sim, podemos falar também das confusões e tensões que geraram o artigo da aluna Mary Taylor, e toda discussão que somou-se a onda do movimento #metoo, contra o abuso sexual contra mulheres. Penso que a maioria das pessoas não leram o artigo de Mary Taylor, aqui está. De qualquer forma, vale ressaltar que o artigo termina com muitos elogios e agradecimentos a Pattabhi Jois. O assunto ganhou ainda maior repercussão quando Kino MacGregor, outra famosa professora das redes sociais resolve escrever sobre o assunto, também elogiando Pattabhi Jois, mas falando de um estupro por um professor de Ashtanga, história que não está relacionada à profissão da pessoa que cometeu a violência, e que não foi por ela explicada (texto original), o tumulto do assunto aumenta ainda mais.
Pessoalmente não possa afirmar nada, pois P. Jois está morto, e não o conheci, mas ao tratar deste assunto com quem o conheceu muito bem ele, seu aluno Lino Miele, ele disse que quando as alunas reclamavam de ajustes, P. Jois imediatamente não os fazia, e já chegou a presenciar alunas voltarem a pedir os ajustes, pois entendiam que não havia segundos interesses na manipulação feita pelo professor, e que sim, eles tinham a função de avançar o aluno na prática. A percepção do mesmo toque parece ser inapropriada para algumas pessoas, enquanto para outras era compreendida como parte do trabalho. Qual a verdadeira intenção de P. Jois? Penso que só as pessoas que melhor o conheceram podem dizer.
Aqui abaixo, deixo novamente o texto do filho de P. Jois, que diz que acha uma loucura esta acusação ao pai 26 anos depois, e que deveríamos espalhar mais amor.
Espero que desta forma tenha conseguido clarear algumas das confusões que tem circundado este específico mundo do Ashtanga Yoga.
Abraço.
Vitor