As diferentes facetas do amor são surpreendentes. Assumem formas inusitadas, no sorriso maroto de uma criança, na piscadela da menina, na mão que afaga os cabelos com gentileza, nos olhos que observam, ou no silêncio que contempla e admira.
Certa manhã, ao sentar ao lado daquela gentil senhora, uma das mais ativas do asilo, perguntei porque ela morava naquele lugar. Sua disposição e lucidez não apresentavam nenhuma necessidade de cuidados de terceiros. Estou aqui por causa de meu marido, me respondeu. Ele sempre foi muito culto, homem de muitas letras, me ensinou quase tudo que eu sei, nestes mais de 50 anos que estamos casados. Seu maior prazer, a leitura. Sua maior tristeza, a velhice ter se manifestado como cegueira. Hoje, retribuo e amo meu marido, estando aqui com ele, a fazer para seus ouvidos, todas as suas leituras.
O amor havia ganho faceta literária, o texto que através dos olhos de um, é acolhido no ouvido do outro, perpetuam a união, a yoga, a relação deste velho casal.
Companheirismo, gratidão, generosidade e doação tão presentes, que apenas minhas lágrimas puderam comunicar minha reação, mediante o esplendor destes gestos de amor.
Assim como a beleza das flores, ou o despertar do dia, os gestos de amor nos podem passar despercebidos. A presença de oração e da meditação, terapeuticamente, nos pode trazer o olhar para estas dimensões superiores que nos alimentam, alegram e reconhecem a Divina expressão do Amor que a todos cerca.
Por Irmão Vitor, em Dezembro 2013