Em primeiro lugar gostaria de parabenizar as novas professoras que estão ministrando as práticas de iniciação ao Ashtanga Yoga no Ciência Meditativa.
Tanto Mônica Borges Martins, como Yone Trevisan, tem mostrado o respeito e a seriedade ao método, e forma de ensinamento. Não desejo sucesso, pois elas sabem que o sucesso é a consequência natural da aplicação dos ensinamentos, assim, nosso desejo aqui se restringe ao sucesso de que estes ensinamentos sejam maravilhosamente bem aplicados.
O que é Yoga Mixtureba?
Bem, para explicar melhor isto, talvez tenhamos que saber um pouco do potencial do próprio Yoga.
O Yoga em sua dimensão mais ampla tem imenso poder de transformação das marcas e amarras emocionais e mentais. No caso do Hatha Yoga, e seu foco no trabalho energético, e físico, os benefícios se estendem ainda mais, pois afetará disposição, condicionamento físico em níveis de força, flexibilidade e cardiorespiratório.
Mas tem mais, todos os benefícios, vamos classificar em físicos, emocionais e energéticos, também podem levar ao processo de cura e restauração da saúde. O conhecimento destes processos e caminhos de restabelecimento da saúde são oriundos das vivências das tradições, seus métodos e professores.
Saber os caminhos da saúde, através dos ritmos e movimentos da mente, e das energias do corpo, é algo que requer muitos anos de auto-estudo, muitos anos de estudo, e o único atalho para aprender isto é ter um ótimo professor com muitos anos de auto-estudo, e muitos anos de estudo, junto à outro professor com muitos anos de auto-estudo e muitos anos de estudo. E isto consiste na força, no poder e na beleza da Tradição do Yoga.
Ok. Agora sim podemos falar do conceito de Mixtureba.
Mixtureba é um neologismo para a facilidade que a nossa cultura avançada e tecnológica tem de somar conceitos, ideias, de forma superficial e sem maiores compromissos com estudos ou aprofundamentos.
Podemos ver esta tendência nas artes, como no cinema, música, no jornalismo, na política, na economia, e até nas universidades, que deveriam justamente trabalhar em sentido contrário à superficialidade.
E isto atinge também o Yoga.
Você pode pensar que estou me referindo aos exemplos mais gritantes como dog yoga, beer yoga, rocket yoga, ou competições como o yoga cup.
Mas este comentário vai muito mais além.
Reflito sobre a necessidade que existe de se misturar o Yoga com algo.
Acredito que a causa disto é o COMPLETO DESCONHECIMENTO DO VERDADEIRO POTENCIAL DO YOGA. Pois se houvesse a disciplina de se dedicar e conhecer o potencial existente, mais especificamente no Hatha Yoga, saberia-se da dimensão de completude, efetividade e resultados desta prática, sem precisar misturar ou acrescentar conceitos confusos.
Vou a exemplos concretos como Yoga Restaurativa, Bikram Yoga, Circus Yoga, AyurYoga, Couple Yoga, AcroYoga, Cannabis Yoga, Nude Yoga, Aerial Yoga, Yoga Equina, Yoga Vedanta, Pilates Yoga e SUP Yoga.
Exemplificando melhor este argumento através de alguns exemplos. Patanjali, codificador do Yoga em seu tratado o Yoga Sutra, explica o caminho do Yogue através da busca de uma mente e práticas satívicas, de clareza e energizantes, e isto se estende à alimentação. O uso do Ghee, manteiga clarificada, muito utilizada na Ayurveda não possui qualidades satívicas, não só pelo fato de ser gordura, mas especialmente por ser de origem animal e processado. Não vou nem entrar no mérito do fato das proteínas animais estarem relacionadas ao desenvolvimento de câncer.
Outro exemplo é o fato de algumas práticas só darem ênfase ao relaxamento, sem trabalhar aspectos de força, ou condicionamento cardiovascular, como deveria ocorrer na abordagem completa e holística do Yoga, e por apenas relaxarem pessoas cansadas e estressadas, não se percebe que estão reduzindo os benefícios e necessidades que precisam ser atendidas. Em especial pessoas de mais idade, que necessitam para manutenção da sobrevivência e da saúde, uma prática mais intensa.
Mais um exemplo é a mistura do Vedanta ao Yoga. Este último uma prática de yogues, que buscavam o auto-conhecimento e desenvolvimento como caminho, em contraste às hierarquias e regras védicas e brâmicas. É como criar um Judaísmo Cristão, ignorando que Jesus defendia uma liberdade em relação às regras judaicas.
Este é um dos motivos que se deve olhar com cuidado os cursos de formação de professores de Yoga também. Pois a maioria deles é reducionista na abordagem e na vivência em sua metodologia de formação. Nosso modelo de estudo e provas não é o modelo de ensino do Yoga.
Neste cenário, a transmissão de ensinamentos do Ashtanga Yoga tem algo a nos ensinar.
Você pode introduzir alunos à Primeira Série de posturas, em duas condições:
1- Se você faz a primeira série de posturas
2- Se seu professor lhe autorizou a ensinar a primeira série de posturas.
Desta forma temos mantido o respeito ao professor e a linhagem de transmissão.
O que se ganha com isto é a possibilidade do aluno receber esta sabedoria que vem da linhagem de professores, uma sabedoria somada, vivenciada por diferentes gerações.
Em minha experiência pessoal, isto garante excelentes resultados, transformações e avanços dos alunos. Curiosamente um fenômeno acontece, os alunos ligados a esta forma de ensino, acabam por desenvolver prática, vivência e aprendizados muito mais profundos do que professores ligados aos métodos mais superficiais do Yoga.
Esta linha de argumentação não invalida o importantíssimo trabalho da Yogaterapia, como brilhantemente realizado por Sivananda ou pelo Professor Hermógenes, e também Krishnamacharya. Mas é preciso entender que existe um método para recuperar alunos no ensino fundamental, com algum problema, e outro método para desenvolver alunos na Universidade. Trazer saúde a pessoas com dificuldades físicas ou sedentarismo se enquadra no aspecto da recuperação de algo fundamental, a metodologia do Ashtanga Yoga tem estrutura para o avanço do aluno, como uma especialização que gradualmente vai se tornando mais avançada.
De qualquer forma, seria uma benção ter alguns professores que sabem que o Yoga tem respostas para ambos os níveis, de ensino fundamental, até universitário.