Para começar gostaria de esclarecer, tive diversos professores de Yoga, mas meus principais professores de Yoga são e foram avessos à processos de formação de professores.
Quem são eles? Trabalhei com o Professor Hermógenes por 10 anos, já era professor de Yoga quando nos conhecemos, e sabia de sua posição de desconfiança em relação à forma como se criava professores de Yoga.
Mas Hermógenes deu aulas em várias formações de professores, não? Sim, e eu também, mas isto só alimentava esta posição, de que não era aquele curso que formava um professor. (Leia a biografia de Hermógenes)
Pessoalmente já dei aula em formações de amigos, já coordenei pós-graduação em Yoga, regulamentada e não-regulamentada pelo MEC (Ministério da Educação), e aprendi errando como a posição de Hermógenes era correta, não desestimulava as formações, mas trabalhava para um aprofundamento do entendimento de Yoga.
Meu outro importante e influente professor, Lino Miele, respondeu-me por vários anos, quando lhe solicitava uma formação, que não era eu quem decidia se estava capacitado a ensinar, mas ele, como professor, que iria me ensinar, quando achasse o momento adequado. Isto levou 8 anos. E Lino só valida hoje, cerca de 50 professores no mundo todo. Pois também não acredita em formação de professores. Acredita em pessoas, algumas, algumas com o caráter, e o compromisso de ensinar como aprendeu, sem invencionices do próprio ego.
Em minha experiência, vejo muita deficiência, falta de estudo, bibliografia, prática, e entendimento da tradição do Yoga na grande maioria da formação de professores. Assim como um médico pneumatologista fumante, muitos não viveram processos poderosos de transformação que o Yoga proporciona, mas estão a ensinar de qualquer forma.
Um famoso professor, formador de grande número de outros professores, costuma se vangloriar por não colocar os pés atrás da cabeça, e que praticar Yoga não consiste em colocar os pés atrás da cabeça. Tal afirmação apenas valida o desconhecimento do mesmo em relação à função das posturas, e porque colocar os pés atrás da cabeça é um recurso da prática do Yoga, e quando e como deve ou pode ser utilizado.
Mas colocar os pés atrás da cabeça é importante? Talvez! Mas anular este conhecimento do Yoga é errado. E quando critico, ou ridicularizo aquilo que não alcanço, ou não compreendo, eu diminuo o Yoga, e diminuo o potencial de meus alunos.
Esta falta de profissionalização é um dos motivos pelo qual os médicos preferem aos profissionais de Pilates, em suas indicações, que os profissionais de Yoga. Os profissionais de Yoga, em sua grande maioria, não conseguem comprovar as evidentes limitações e resultados inferiores que a prática de Pilates proporciona.
Em relação ao Ashtanga Yoga, a ignorância se faz ainda mais presente, pois muitos pensam que é o fato de se fazer as posturas que define um professor.
Pois bem, tenho uma aluna, que em apenas três meses já faz toda a primeira série do Ashtanga Yoga. E a regra básica é que se poderia ensinar uma série de ásanas, se você as realiza. Pois bem? Isto também está totalmente incompleto. Ashtanga Yoga não é baseado apenas em posturas, por isto é chamado o Yoga da Respiração, em seu principal manual, escrito por Lino Miele. (Adquira aqui o livro)
O fato de minha aluna fazer todas as posturas, não a capacita de as ensinar, pois vários aspectos da maturidade dela, das posturas, e da própria respiração, ainda lhe falta. Um aspecto fundamental, que colocou meu professor me observando durante anos, antes de me convidar a ser um representante da tradição, foi se eu tinha a maturidade para respeitar a tradição, respeitar o ensinamento, e viver o ensinamento com este respeito. Só depois que ele teve esta certeza, que me convidou a aprender a ensinar.
Este respeito ao ensinamento, e a forma de viver o ensinamento, talvez seja o ingrediente mais difícil de se alcançar na transmissão do Yoga, e talvez esteja fora do alcance dos cursos de formação de professores, na forma com são ministrados em sua maioria.